Não
poderei, acho, dissimular a emoção que sinto hoje em estar aqui, nesta sala, ao
proferir o nome de Maria Gabriela Llansol com admiração. Confesso que nem foi
há muito tempo que isso aconteceu, mas como nas grandes paixões, o tempo parece
ter-se iniciado, ou se calhar encerrado, com a leitura dos livros dela. À
generosidade do meu amigo João Barrento agradeço a bondade deste momento tão
especial para mim. E como prefiro começar, certas coisas, pelo final
proponho-lhes abrir a última página de Cruzar
la puerta que quedó entornada e ler, no colofão, uma citação de Maria
Gabriela Llansol. Com as palavras dela gostaria de agradecer a todos, amigas e
amigos, a vossa presença nesta sala: «Dia de uma excecional felicidade: eu
estava ligada a todos, todos se ligavam a mim. Perfeita presença». Há
exatamente 40 anos e 14 dias ela já estava a falar de nós. Obrigado por terem vindo
pelo prazer da palavra.
Quem me ofereceu pela primeira vez o nome de Maria Gabriela Llansol não
podia ser outro senão o João Barrento, gosto de o lembrar. Peguei numa tarde
qualquer, com a ingenuidade que a gente tem ao passar páginas, no seu lindíssimo
livro nas Edições Averno, o Diário do Dia
Seguinte , com um título que estremece: Como
um hiato na respiração. Livro aliás
que torna o mais soturno pensamento num pensamento vibrante e não sei se
poderei dizer alegre, mas sim jubiloso. Lá encontrei algumas citações dum nome
para mim, na altura, desconhecido. No início ponderei, inclusive, ser fruto da
heteronomia inspiradora do autor. Mas não, Maria Gabriela Llansol existiu e eu
devia tê-la vislumbrado nas muitas livrarias de Lisboa, que visitava compulsivamente,
quando nos anos 83, 84 e 85 morei no Lumiar.
A Restante Vida, Na Casa de Julho e Agosto ou Causa Amante... foram títulos que
pululavam sobre as mesas das livrarias sem eu reparar neles. Em minha defesa só
posso dizer que era muito novo e inexperiente e a minha única paixão era a
poesia. Duas razões ótimas, estou a ver, para a ter descoberto na altura.
O primeiro livro que li de Maria Gabriela Llansol foi o Livro das Comunidades, o volume que me
resultou mais fácil encontrar, na tradução para o espanhol feita por Atalaire pertencente
à trilogia Geografia de Rebeldes. Uma
esplêndida tradução, posso hoje dizer com certeza, pois já li depois esse livro
inicial e iniciático no original. Lembro a impressão que tive: pela primeira
vez na minha experiência de leitor, não especialmente dado às vanguardas, senti
que o peso do significado newtoniano da prosa, até então para mim o valor mais
importante na leitura, sumia-se com uma leveza incompreensível e deixava na
página sentidos que livremente se ligavam uns aos outros sem que nenhuma força
gravitacional os empurrasse para o chão branco da folha. Na altura, eu estava a
escrever uma série de textos nos quais brincava com autores de que gosto,
retratados na sua juventude, num momento de admiração pelos clássicos. E a
minha impressão foi logo transferida para a moça Maria Gabriela que imaginei a
seguir os passos de Juan de Yepes, mais conhecido como Juan de la Cruz, na
brincadeira textual convertido num pregoeiro gago. É o texto com o qual começa Cruzar la puerta que quedó entornada, e
também esta apresentação.
1962 — Os pregos na erva
No duró mucho en el puesto Juan de Yepes. Tres días. Nadie
preguntó quién se había preocupado por oírle antes, nadie le echó en falta
después. Balbucía palabras ininteligibles el pregonero tartajoso.
Enmascaraba horarios, desfiguró hasta la frase más obvia. Ninguna
convención servía tampoco para descifrarle. Alargaba y acortaba los sonidos sin
regla. A la tercera tarde de salir a
declamar los anuncios del consistorio ya se había convertido en una irrisión
generalizada. Para todos, menos para María Gabriela, que le persiguió por las
calles las tres jornadas, conmovida, y aún continúa así, por la deslumbrante
belleza de lo incomprensible.
Pensei que este seria o único e o último texto conotativo que
escreveria; e lá ficou, na sua série. Pronto. Mas continuei a ler a Maria
Gabriela Llansol. O enlevo intelectual desta leitura encaminhava-me
para um possível ensaio. Neste sentido, decidi seguir a linha cronológica das
publicações da autora, enquanto cada título aumentava o fascínio e a vontade de
alcançar a máxima intimidade com a obra dela.
Todos os meus passos, tal como tinha feito antes com escritoras e
escritores que fui conhecendo, apontavam para um trabalho crítico, se calhar sobre
o Livro das Comunidades. É o que eu
poderia ter feito agora, por exemplo, falando dum motivo recorrente que logo me
maravilhou: as ideias sobre a escrita. Só uma citação llansoliana: «São João da
Cruz... escrevia a meu lado e... eu sonhava que, no meu quarto, ele ia
principiar a escrever o que já escrevera (18)».
Esta conceção dinâmica da escrita que fulmina a linearidade cronológica
do tempo, para situá-la em idêntico plano temporal que a leitura permitia uma
demorada meditação concetual. Mas eu peguei de imediato na caneta e procurei,
no plano exclusivo do espaço, descobrir onde é que a Maria Gabriela estava a
escrever aquilo que eu estava a ler, com a sensação de permanecer mesmo ao pé
dela. E apareceu um poema que muito cedo seria o princípio duma conversa, em
idêntico plano espacial, com aquilo que eu estava a ler:
I. Charla
| 1
Un charco de luz donde flotan las ramas que el viento del otoño ha
arrancado. Encuentro a Ana de Peñalosa en la cocina. Escribe. El cuaderno
abierto sobre el mantel de cuadros rojiblancos. La escucho con la espalda
apoyada en los azulejos de la pared. Con el frescor recorriéndola. El rumor de
la pluma al arañar el papel. La atiendo ensimismado. Sé que podría decir algo
en cualquier momento, y Ana levantaría los ojos para mirarme. Pero entonces
dejaría de oírla, así que callo. Y sin embargo hay una conversación. Las ramas del
tilo que caen en la blanca alberca.
Na leitura que acontece ao mesmo tempo em que aconteceu a escrita, o
leitor não só tenta não incomodar, mas aproveita a sua presença incógnita na
sala para cuidar aquilo que ficou escrito. O nascimento da escrita acontece,
aliás como qualquer nascimento, no meio duma grande fragilidade. É o leitor o
único que pode dar-lhe a permanência que não teve na origem, pois a escrita é
mortal, o que não é mortal é a leitura enquanto houver leitores.
A permanência pode ser dada de múltiplas formas, eu imaginei uma para
mim, no poema seguinte, mas queria dedicá-la hoje ao labor de edição dos
cadernos de Maria Gabriela, que João Barrento e Maria Etelvina Santos realizam.
Com o tecido fino a limpar cuidadosamente as riscaduras da escrita:
3
La nostalgia de réplicas la suple Eleonora gracias a una pequeña maceta con
siete bulbos de narciso. Si el terciopelo de los nubarrones cuelga como cortina
ante la ventana, la coloca en el alféizar. Si una frase adolece de esta
ausencia de voces por los corredores de su construcción, la deja entonces en la
mesa, sobre el montón de folios escritos. Sin precaución, a veces, por regarla,
vierte la jarra del agua y me apresuro trapo en mano a limpiar tierra y humedad
antes de que la tinta abandone las palabras, salte de unas a otras, las
confunda, las ciegue.
Neste ponto, a simples leitura revelou o que estava a fazer. Em lugar de tentar racionalizar cada uma das
virtudes da prosa que encontrava, sentia a tentação de refleti-la
criativamente. Aquilo que começara a
fazer de maneira intuitiva tinha nome e, sobretudo, tradição. Era uma imitação.
Mas uma imitação clássica. Uma Imitatio.
A forma como os antigos conversavam e aprendiam com os seus mestres. Assim cada
descobrimento llansoliano levava-me à escrita dum fragmento próprio. Sobre a Imitatio só gostava de lembrar agora o
seu propósito. Ao contrário dos modernos, que como vocês bem sabem, só gostam
de reproduzir na imitação os recursos expressivos, e, por isso, não têm piada
nenhuma, os clássicos procuravam criar recursos expressivos próprios para os
temas e motivos que recolhiam dos autores que admiravam. Mas, como sempre
acontece, quem melhor exprimiu esta ideia foi a Maria Gabriela no Livro das Comunidades. A citação diz:
«Leio um texto e vou cobrindo-o com o meu próprio texto que esboço no alto da
página, mas que projeta a sua sombra escrita sobre toda a mancha escrita». Ler
é a primeira caligrafia da escrita.
Neste
sentido, alcancei logo o núcleo de intensidade em volta do qual girava o
fragmento no estilo llansoliano, o que ela vai chamar, mais adiante, as «cenas
fulgor». Intensidade que eu imaginei como a atração natural que têm algumas
pessoas pelo caráter revelador do seu conhecimento. E tentei mostrar esta
atração da intensidade na prosa llansoliana com o poema protagonizado por Marta
e Maria, irmãs beguinas, que distribuíam epifanias ao passar. O eu que aparece
no texto é, claro, o eu leitor; e Marta e Maria encarnam o emblema da prosa
llansoliana:
5
Cestos de mimbre a medio llenar, o medio vacíos, arrumbados bajo un
soportal. Cántaros que dan de beber al sol. Gallinas que estrenan la libertad.
Basta el paso por las callejas del mercado de Marta y María, las dos hermanas
beguinas, para que lo perentorio extravíe sus razones. También a mí me ocurre.
Por seguirlas con la vista descuido cualquier negocio que tuviera entre manos.
Y ni siquiera voy a susurrarles severa cuestión al oído y escuchar su consejo
con pasmo en el rostro. Ni desdoblo las mil dobleces de una carta para oír cómo
transforman los garabatos en palabras.
No
entanto o impacto mais importante que tive ao ler o Livro das Comunidades foi a descoberta duma poética do espaço. O
século de Maria Gabriela Llansol foi o século da temporalidade. O de Ser e Tempo. O tempo atravessou a filosofia
e a poesia das décadas com o sua angustiosa cadência. Para os antigos espaço e
tempo partilhavam idêntica condição, mas no decurso da história o tempo
consolidou-se como um tema universal e o espaço como uma simples circunstância,
um tropo. E o século de Maria Gabriela Llansol conheceu, a partir das poéticas
existencialistas, o apogeu da temporalidade. Mas a espantosa frase inicial do Livro das Comunidades esquece
drasticamente o tempo e situa o peso temático só sobre o espaço: «nesse lugar
havia uma mulher que não queria ter filhos de seu ventre». Mais: os capítulos
chamam-se «Lugar», isto é, o espaço toma o protagonismo também estrutural do
livro. E o tempo, de modo explícito nesse mesmo parágrafo, passa agora a ser
uma circunstância: «tinha uma maneira distante de fazer amor: pelos olhos e
pela palavra. Também pelo tempo, pois desde os tempos da sua bisavó, voltar a
qualquer época era sempre possível».
O tempo é apenas uma maneira
de fazer, e além um tempo desprendido de todos os atributos existencialistas:
«voltar a qualquer época era sempre possível». Este início do Livro das Comunidades levantou em mim,
para quem a condição humana foi sempre Ser
e Espaço, uma admiração sem limites.
Conforme a poética «criadora de
espaço», dito com expressão de LLansol, se ia desenvolvendo, eu passei a
precisar de uma escrita menos narrativa para continuar a conversa. A descoberta
de ideias tão rutilantes aconselhou-me o diário, género que Maria Gabriela
Llansol levou, poucos anos depois do Livro
que estamos a comentar, à maior grandeza literária. E continuei a escrever
poemas, agora como apontamentos pessoais, nesse diálogo permanente que se
estabeleceu entre o leitor e a autora. Dei-lhe nome cortaziano, Maga, acrónimo
do nome dela; escrevi o apelido do avesso, com uma mínima adaptação
ortográfica, Losnay, e continuei a numeração que a autora utilizou para o seu
diário o dia 15 de Novembro de 1981, em Um
falcão no punho, e deixou o dia seguinte inconcluso. O primeiro texto desse
diário que vai desenvolver-se por quatro das oito séries do meu livro, mostra os
efeitos em mim deste impacto inicial:
II. Maga Losnay, dietario
# 545
Género redundante, lo es el diario cuando copia el tiempo que ha sido. Si
se ha ido, ¿qué le añade lo escrito? ¿La permanencia? Pero no amarran las
palabras el tiempo como los cabos sujetan el barco al noray. ¿Qué le añade,
entonces, al querer así fijarlo? El buque retenido en puerto —mientras los
marineros engordan y las arañas aprovechan los orificios de la cadena que tensa
el ancla para sus delirios geométricos—, ¿continúa siendo navío? Al diario le
corroe idéntica quietud. Solo le libera desentenderse del tiempo: contar lo que
ocurra cuando una ya no esté. Ser espacio.
Diário que às vezes olhava os espaços comuns que descobria na leitura
llansoliana, e outras vezes descrevia apenas os meus espaços trazidos à luz dessa
leitura, como o seguinte fragmento, que é uma evocação da ruela que me leva
todos os dias ao meu lugar de trabalho:
# 547
El manto que los jazmines han tejido sobre la tapia de un jardín. La calle.
En la luz de invierno, los ciruelos florecen. El caminar me lleva de uno a
otro. El viento agita las ramas. Una paloma aletea para alzar el vuelo. Los
pasos de quien calza botas detrás. Un furgón de reparto los borra, pero su
lejanía me los devuelve. Así es como se va comprendiendo el oleaje de lo real.
Una frase que me regalan los muchachos que caminan hacia el instituto. Alguien
que tiende la colada desde una ventana. Pensar, ir de una a otra sensación.
Nesta
altura, ao crescer em paralelo leitura llansoliana e escrita, apareceram novas
hipóteses de séries poéticas. Descobri o imenso valor da prosopopeia na
ameixeira em flor que plantou, cuidava e mimava no jardim da casa dela. E logo
comecei a escrever os poemas que teria escrito a Prunus Triloba como réplicas
àquelas páginas que a Maria Gabriela Llansol escreveu sobre o arbusto com quem
falava amiúde. Lerei um dos textos desta série de pensamento vegetal:
4
Quien dibuje un círculo y se inscriba en su centro ha perdido el contacto
con lo que le rodea. No lo ve cuando mira porque cuanto existe ha dejado de
estar dentro del trazo que cercena la existencia. Solo se encontrará a sí mismo
quien se considere el núcleo, el resto vivirá a sus espaldas. Como vivían el
granado romano, el níspero gótico y los gatos renacentistas en este abandono
antes de que llegara Ella. La que me plantó junto a la puerta, me cuidó, me
quiso como quería a todo lo viviente. Una planta más, un ser entre seres.
Em outra
série, esta mais narrativa, a partir duma menção llansoliana sobre a neve que
estava a cair no dia do nascimento de Ana de Peñalosa, tentei traçar o percurso
que o pranto da criança recém-nascida levou desde o quarto onde ocorreu,
através de ruas, tabernas, campanários, campos lavrados e bosques, até os
ouvidos de João da Cruz, que assim recebeu a notícia:
8
Los tejadillos de pizarra, el chapitel, el alféizar de las ventanas…
blancos. La campa entera, un sudario sin muerto. Nieva. El castillo también
enharinado, como una hogaza gigante a punto de entrar en el horno. No ha dejado
Juan aún atrás, pese a las penalidades propias de un adulto, el niño que sigue
siendo. Los mercaderes que han acudido de mañana a la feria de Medina se arrebujan
bajo un soportal. Cuentan historias que inventan al paso del aburrimiento. Juan
Yepes escucha y mira. ¿Ha visto vesarced germinar vástago de mujer? —pegunta
uno para que le dejen hablar de nacimientos.
A última das séries, além dos diários de Maga Losnay, titula-se «Biografia
do olhar», e está formada por textos que, a partir de apreciações llansolianas,
procuraram perceber diferentes formas de olhar e os significados que têm.
Concluirei esta apresentação com a leitura de textos desta série. Só gostaria,
neste final, enfatizar que o estado de criador
de espaço poético, diga-se à maneira llansoliana, foi vivido por mim como
uma aventura espiritual de ligação e presença com Maria Gabriela Llansol que
nunca previ nem planifiquei, só senti que acontecia como um ingrediente natural
da leitura. E foi isso que tentei expressar esta tarde, com a emoção de quem
foi arrastado pela deslumbrante beleza da palavra llansoliana.
VII. Biografía de la mirada
1
Voy de la mano con mi padre por la Calçada da Estrela contando los tranvías
que suben y los que bajan. Le miro y sigo buscando qué miran sus ojos, que no
se posan sobre nada que vea yo delante. Voy contemplándome en el reflejo de los
escaparates de las tiendas por donde pasamos y admiro una y otra vez el vestido
que llevo puesto y que tanto me gusta, pero que mi padre no parece advertir.
Voy saltando en el empedrado por encima de bichos que ahora solo ven mis ojos y
cuando reclamo los suyos tampoco los encuentro.
2
Podía no ver a nadie, aun mirándole a los ojos. Se cruzaba por los
corredores sin responder a los saludos aunque a menudo caminara hablando,
consigo misma o con el vacío que la acompañaba allá adonde fuera. Cara de
persona solitaria, gesto abandonado, nunca se le vio, ni aquella tristeza que
empalidece las facciones. Andaba siempre alegre, puro júbilo que no compartía.
La rara, la llamaban las demás, la chiflada. Cumplía sus tareas y al final de
la jornada, cuando las hermanas parecían rezarle a un padre autista, secreteaba
ella con otro juguetón y comprensivo. Un dios igual de lunático.
3
Ya sé que era solo la cocinera, pero la casa estaba apartada y el verano
era tan inacabable que allí todos parecíamos importantes. Pasaba la mañana
condimentando alimentos y por la tarde limpiaba los fogones. Si salía al
jardín, avanzaba cabizbaja, con grandes zancadas. Como si tuviera prisa. La
sujeté por el hombro. Le dije que mirara hacia las montañas, el verdor azulado
de los pinos, los pastos aún frescos, las crestas de granito descarnado. No
levantó la vista de los guijarros del sendero. Solo hay un paisaje, me
respondió. ¿Y esta maravilla? Una postal que nadie me ha mandado.
4
Si aquel mira, si este mira, si el de más allá está mirando, he de cerrar
los ojos para ver. Porque mantenerlos abiertos no sirve ya para distinguir lo
que hay, sino para establecer solo un orden. De qué me vale que el de más allá
mire, este mire y aquel esté mirando si el cauce común conduce a lo explicable.
Si entre todas las miradas componen un acuerdo al que denominan realidad sin la
menor objeción. Usan la vista para reconocer lo que ya han visto que hay, no
para imaginar lo desconocido. A tientas avanzo hacia lo inexplicable.
[Octubre, 2017]
[in: O Livro-Fonte. O Livro das Comunidades. 40 anos depois. Organização João Barrento. Ed. Mariposa Azul, Lisboa, 2018. Págs. 61-70]
[Octubre, 2017]
[in: O Livro-Fonte. O Livro das Comunidades. 40 anos depois. Organização João Barrento. Ed. Mariposa Azul, Lisboa, 2018. Págs. 61-70]
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